quarta-feira, 25 de maio de 2016

Alison: um gigante dentro e fora das quadras



Como já relatado em postagem anterior, a primeira vez que fui a uma etapa de vôlei de praia foi em 2010. Na oportunidade, chamou minha atenção um dos atletas da final masculina. Ao lado de Emanuel, que eu já conhecia por todos os seus feitos, estava um rapaz cuja presença não poderia passar despercebida: um verdadeiro gigante! Para além da postura dentro de quadra, lembro-me do seu comportamento após o jogo: distribuiu autógrafos e gentilezas para o público presente que, durante todo o jogo, torcera não por ele, mas pela dupla adversária, que tinha um cearense. Apesar de, na época, não acompanhar tanto quanto hoje o vôlei de praia, recordo-me de ter comentado com quem assistia ao jogo comigo que achava que ele um dia seria um dos melhores do mundo.

Alison no Sofia nos Jogos
Não demorou tanto tempo assim para que aquilo que era evidente até para quem o via jogar pela primeira vez tornar-se realidade: no ano seguinte, ele conquistou seu primeiro campeonato mundial e, em Londres 2012, sua primeira medalha olímpica, jogando com uma naturalidade que fazia os comentaristas da televisão destacarem que ele não parecia estar sentindo o famoso “peso de jogar uma Olimpíada”.

Alison vibrando com Bruno no Superpraia 2016

Atualmente, forma uma parceria bem sucedida com Bruno Schmidt e juntos já superaram momentos difíceis até conquistarem a primeira vaga masculina do vôlei de praia para o Rio 2016, além de terem estado no lugar mais alto do pódio, em 2015, no Campeonato Mundial, no Circuito Mundial e no World Tour Finals, para citar apenas os mais relevantes. Lembrando que, depois do Campeonato Mundial na Holanda, eles engataram uma sequência de cinco títulos consecutivos em etapas válidas pelo Circuito Mundial, muito próximos do recorde da modalidade.

Alison e Bruno em ação no Superpraia 2016

Quase seis anos se passaram e o que posso concluir é que, sim, Alison, ou Mamute, continua um gigante dentro e fora das quadras. Cada vez mais maduro e consciente da sua importância para a modalidade e para o esporte brasileiro em geral, hoje bicampeão mundial e prestes a disputar sua segunda Olimpíada, desta vez, em casa, ele falou conosco e revelou um pouco da sua paixão pelo vôlei de praia e pelos Jogos Olímpicos, além de demonstrar muita gratidão por tudo o que já alcançou na sua carreira!

Vamos juntos!

1. Qual a sua lembrança mais antiga de Olimpíadas?
Barcelona 1992. Eu tenho duas grandes recordações: eu pude ver a seleção brasileira de quadra, o saque do Marcelo Negrão, que é uma coisa que me arrepia até hoje e o Aurélio Miguel sendo campeão no judô. Foi muito gratificante para mim, 7 anos de idade, assistir àquilo sem entender muita coisa, mas ver a bandeira no lugar mais alto, o hino nacional, me arrepia até hoje só de pensar!

2. Qual(is) o(s) momento(s) olímpico(s) mais marcante(s) para você como espectador?
Vários marcantes! Pequim 2008, quando eu vi o Cielo sendo campeão. Atenas 2004, estava começando minha carreira no vôlei de praia, vi Ricardo e Emanuel jogando a Olimpíada. 2008: o Fábio Luís, uma superação total, capixaba, da minha terra, como foi difícil a classificação deles! Eu tenho várias recordações, principalmente do Brasil. Porque a Olimpíada é muito mágica, te presenteia de maneiras incríveis! Eu acredito muito nisso! Tudo o que aconteceu com a Maurren Maggi também e depois, em 2008, ela superou aquilo tudo! Assistir ao Michael Phelps ganhando sei lá quantas medalhas! Foram momentos incríveis, maravilhosos e eu agradeço por ter vivenciado na telinha isso tudo ao vivo.

3. E como participante dos Jogos?
Foram vários também! Desde o início, quando eu botei a roupa da delegação. A abertura olímpica foi incrível para mim, eu me arrepio e me emociono só de pensar. Eu lembro que estava ao lado do Emanuel e vi grandes atletas, eu me senti nesses grandes atletas, entre os melhores. No terceiro dia de Vila, eu fui tomar café e, do meu lado, estava o Michael Phelps. Eu larguei a bandeja, dei bom dia e ele respondeu educadamente. A minha experiência de jogar uma Olimpíada foi maravilhosa, de entrar naquela arena pela primeira vez na minha carreira, na minha vida, de estar realizando um sonho, atingindo um objetivo, de jogar numa final olímpica, de receber mensagens dos amigos, dos parentes, dos brasileiros, de ver que, naquele momento, eu era uma referência no meu País, uma grande responsabilidade, mas foi muito gostoso vivenciar aquilo tudo e, de nenhuma maneira, encaro como pressão, e sim como privilégio de poder estar naquele lugar, naquele momento.

Alison e Emanuel e a prata olímpica em Londres 2012 [1]
5. Quem são seus ídolos olímpicos, independentemente da modalidade e por quê?
Emanuel, nunca escondi isso de ninguém. Ricardo, por ter formado um grande time com Emanuel e ter três medalhas olímpicas também. No meio do vôlei, são vários: Nalbert, Giba. Referência quando eu jogava vôlei de quadra: o Gustavo. Ricardinho, Escadinha [Serginho], aquela seleção era incrível! Vôlei feminino também, as meninas pela superação que tiveram do ano de 2004 para 2008 e 2012, ganhando duas medalhas olímpicas seguidas. A Maurren Maggi, como falei, e outros atletas de outros países. Em 2008, eu vi um levantamento de peso de um alemão, que foi campeão olímpico. Ele tinha uma foto da mulher dele embaixo do peso, toda hora que levantava. Ele tinha perdido a mulher uma semana antes, então aquilo para mim foi de arrepiar! Michael Phelps incrível, o basquete americano maravilhoso, o basquete espanhol, assisti a todas essas modalidades! Posso estar pecando esquecendo de alguma, mas você estar ali é a melhor coisa, porque você se sente entre os melhores do mundo. São 5 mil atletas para 7 bilhões de pessoas que existem no mundo, você, só de estar ali, já é um privilegiado!


Bruno e Alison no pódio da Etapa de Fortaleza 2016
6. Quando você via as Olimpíadas na TV, se imaginava fazendo parte delas?
Não, não imaginava. Quando eu comecei a jogar voleibol, eu não imaginava me sustentar disso, ser uma referência, eu só queria jogar voleibol, sempre quis. Quando eu jogava vôlei de quadra, encontrei todos esses meninos que hoje estão lá na Seleção: Bruninho, Lucão, todos eles já sonhavam em estar na Seleção Brasileira. E eu pensava que eu não, que iria ser administrador de empresas, fazer outra coisa da vida... E o mundo deu voltas... Um tempo atrás, encontrei o Lucão e falei: "o mundo dá voltas, você hoje vice-campeão olímpico na quadra e eu na praia". Eu realmente não imaginava isso tudo. Hoje eu coloco objetivos na minha carreira, como sempre coloquei a partir do momento em que virei profissional. Eu sou muito grato. Às vezes nós esquecemos de tudo que nós passamos, de tudo que conquistamos, mas tudo que eu passei, quando eu paro, lembro em casa, seja lá onde for, estiver sozinho, eu lembro de tudo o que eu vivenciei, perdi e ganhei... Na verdade, eu não perdi, aprendi! Eu tive muita oportunidade na minha carreira e, para mim, hoje ser uma referência no meu meio para os mais jovens, é muito gratificante! Porque eu atingi alguns objetivos que muitos atletas não atingem e que eu nunca imaginava atingir. Pretendo atingir mais, porque eu tenho os meus objetivos pessoais. Eu tenho muita emoção por estar vivenciando isso, por ter voltado a jogar em alto nível, por estar entre os melhores do mundo. É uma responsabilidade muito grande também, mas eu tenho muito orgulho de estar vivenciando isso tudo.

7. Quais as suas expectativas para os Jogos Rio 2016?
Minha expectativa é a melhor possível como time! Estamos nos preparando bem, nosso terceiro ano de parceria. Nosso primeiro ano foi o primeiro ano de capinar todo o terreno, de se conhecer, de ver o que que era certo e o que era errado, como respeitar um o jeito do outro: o Bruno é desse jeito, eu sou daquela maneira. No ano seguinte, foi o ano de subir a casa, a gente subiu uma casinha, a gente conquistou algumas coisas, com momentos de dificuldade, de superação. Conquistamos Circuito Mundial, Copa do Mundo, World Tour Finals, Superpraia, voltando de uma lesão, voltando de uma operação de apêndice... E este é o terceiro ano, é o ano de pintar a casa. A gente está buscando sempre isso, a gente tem os mesmos objetivos. Um time chega mais longe quando tem o mesmo objetivo e nós temos este mesmo objetivo, nós queremos muito isso, a gente está abdicando de muita coisa, nós fizemos esta escolha na nossa carreira e a gente não pode se arrepender disso. A gente está lidando muito bem com essa pressão, mas que, como falei, é uma pressão gostosa. A pressão maior acaba sendo de dentro de casa, nossa. Nossos técnicos, psicólogos têm que ficar nos controlando, porque a gente fica até ansioso demais, mas a gente está no caminho certo. Por tudo o que eu vivenciei, a gente tem que tomar muito cuidado, humildade, respeitar o próximo, independente de se isso vai nos dar uma medalha de ouro ou não, mas isso vai nos fazer sempre seres humanos melhores. Venho amadurecendo muito com o Bruno, ele vem me ensinando muita coisa. Eu hoje sou um outro atleta, sou muito mais calmo dentro de quadra, sou muito mais calado, vejo o jogo de outra maneira, não que aquela maneira fosse errada, mas é um amadurecimento mesmo do ser humano, assim como ele é também um cara que fala muito mais, é um outro Bruno. Acho que é isso. O Brasil vai fazer muito bonito também, não só nossa dupla, mas acho que todos os atletas estão se preparando bem para esse torneio!


Eu e Alison


É isso, Alison, esperamos que você e o Bruno possam, como você falou, pintar sua casinha com a cor de uma medalha olímpica e pode ter certeza de que, assim como você já se inspirou em tantos ídolos olímpicos, hoje você já é um exemplo para muitos atletas e torcedores!

[1] http://www.mpcrio.com/wp-content/uploads/2012/08/vp.jpg
Demais fotos: Arquivo do Blog

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