Pioneira. Esta palavra, de fato,
define Sandra Pires.
Sua primeira Olimpíada, Atlanta
1996, foi também a primeira do vôlei de praia. Desse modo, ela se tornou a
primeira campeã olímpica da modalidade, junto com Jackie Silva. Como se não
bastasse, esta foi também a primeira medalha olímpica de uma brasileira, depois
de 76 anos de participação, e, como já mencionado, foi logo a dourada.
Aquela final também entrou para a
história por ter sido 100% brasileira. Ela não sai da lembrança de quem a
acompanhou, como relatei no meu primeiro post, e como vocês puderam ver no
relato de algumas das atletas mais vitoriosas do País na atualidade. Sem
dúvida, aquele jogo inspiraria toda uma geração.
Quatro anos depois, suprindo uma
pequena lacuna deixada em Atlanta, Sandra participou da sua primeira cerimônia
de abertura e, sendo mais uma vez pioneira, foi a primeira mulher
porta-bandeira do Brasil, em Sydney 2000. Nessa Olimpíada, Sandra ainda
conquistaria mais uma medalha na sua carreira, o bronze.
Sandra: porta-bandeira em Sydney 2000 [1] |
Em 2014, Sandra entrou para o Hall da Fama do Vôlei, honraria concedida aos melhores do mundo tanto no vôlei de quadra, quanto no de praia.
Atualmente, Sandra é comentarista
do canal esportivo SporTV e estará diretamente envolvida na cobertura de mais
uma edição dos Jogos Olímpicos.
Apesar da agenda atribulada, pois
também é embaixadora dos esportes, Sandra dedicou um tempinho para falar com a
gente sobre suas memórias olímpicas! Não posso deixar de registrar minha emoção
com essa entrevista, pois quem diria que a menina de seus oito anos, que vira
aquelas quatro gigantes subindo ao pódio pela TV há 20 anos, pudesse um dia sequer
tirar uma foto com uma delas, quanto mais entrevistar. Uma prova de que a vida
é feita de sonhos e que devemos correr atrás de todos eles para realizá-los, é
o que o esporte e atletas como Sandra Pires nos ensinam!
Vale a pena a leitura!
1. Qual
sua lembrança mais antiga de Olimpíadas como torcedora?
Eu lembro muito
de Barcelona 1992. Eu já tinha um entendimento, já estava envolvida no esporte.
Me marcou bastante a final brasileira dos meninos do vôlei de quadra. Assistia
também muito atletismo, sempre gostei! Foi meu primeiro esporte.
2. Qual(is)
o(s) momento(s) olímpico(s) mais marcante(s) para você como espectadora?
Antes de jogar,
de participar, o que eu lembro mais é essa medalha de ouro do vôlei de quadra
em Barcelona 1992. Eu também vi um pouco, mas não chego a me lembrar, dos Jogos
Olímpicos da medalha de prata [Los Angeles 1984]. Eu não me lembro de ter
participado tanto quanto de Barcelona, mas aquela medalha também foi bem
especial! Eu lembro de vários dos jogadores dessa geração, eu era bem pequena, mas
lembro do Renan, do Bernard, com aquele saque jornada. Aquela geração jogava
demais! Não eram assim tão altos, mas eram muito craques mesmo! Tinham muita
saúde!
3. E
como participante dos Jogos Olímpicos?
Já jogando, não
tem como não falar da conquista da medalha de ouro. Eu era muito jovem [Sandra
tinha apenas 23 anos quando foi campeã olímpica], estava começando uma carreira
e era uma responsabilidade muito grande chegar na primeira Olimpíada e como favorita, mas, diante daquilo tudo, eu consegui ser bem forte, aguentar a
pressão. Eu conhecia a história da Jaqueline, sabia que ela tinha participado
de duas Olimpíadas pelo vôlei indoor,
Moscou e Los Angeles, e que ela queria muito uma medalha de ouro. Ela era a
melhor jogadora do mundo de vôlei de praia quando se juntou a mim. Então era muita responsabilidade e eu não queria deixar
aquela oportunidade passar. Eu fui muito dedicada. Ela me convidou para jogar no final do ano de 1993, antes eu jogava com a Karina. Fui jogar nos Estados
Unidos para acelerar o meu processo. Naquela época, eles tinham o melhor
evento, mais etapas, os melhores jogadores estavam lá, não tinha tantas etapas
ainda aqui no Brasil, principalmente no feminino. Eu comia, dormia, treinava, o
tempo todo isso! Só pensava em voleibol! Fui para um “intensivão”! Valeu muito
a pena! Desenvolvi muito jogando ao lado da Jackie, que é craque, tanto eu a
via fazendo, executando, como falando para mim as coisas e também estava misturada com os
melhores do mundo! Treinava do lado, em algumas praias, do Karch Kiraly, que é
meu ídolo. Eu vi muita coisa. Foi muito válida essa ida para os EUA e realmente eu sabia que seria essa Olimpíada a oportunidade única. Eu sabia que,
se todos apostavam na gente, a gente tinha chance. Deu tudo certo!
Campeã olímpica Atlanta 1996 [2] |
4. Quem
são seus ídolos olímpicos/esportivos, independentemente da modalidade?
Ayrton Senna. Eu
cresci com aquela musiquinha na minha cabeça, aquilo emociona muito. Eu acho
que foi dali que eu comecei a me imaginar também com a bandeira do Brasil,
aquela musiquinha dele aos domingos era muito emocionante. Adoro velocidade,
era muito legal acordar e ver aquela cena, ele ali com aquela bandeirinha
passando, saber daquela coragem dele de acelerar a 300 km/h num carro, o quanto
ele era bom naquilo, fantástico! Então comecei a pensar: nossa, eu quero também fazer
isso, representar meu País, ir bem e, se eu sinto essa sensação, quero fazer os
outros também sentirem. Outro seria Karch Kiraly. Eu via sua postura, um cara
muito sério, muito dedicado. Ele não era um cara tão alto, mas era extremamente inteligente, concentrado e habilidoso. Ele conseguia vencer
atletas muito mais altos do que ele, gigantes, e a gente sabe que altura conta
muito no voleibol, ajuda muito. E agora, como técnico, é tão dedicado quanto [Karch Kiraly é técnico da Seleção Feminina de Vôlei de Quadra dos EUA, atual
campeã mundial e uma das favoritas no Rio 2016]. Adorava também o Michael
Jordan jogando.
5. Quando
você via as Olimpíadas pela TV, se imaginava fazendo parte delas?
Não. Eu jogava
vôlei indoor, mas me achava baixa.
Não existia naquela época a figura do líbero para escolher e eu comecei um pouco tarde, porque queria estudar, morava longe, vários
fatores que atrapalharam. Fui direto para o juvenil, foi tudo muito acelerado.
Quando eu comecei a jogar no indoor,
no profissional, eu já estava entrando na faculdade.
Quando eu vi a praia, fui experimentar, jogava os dois. Mas, na época, praia
não era esporte olímpico ainda. A praia só se tornou olímpica em 1995 e eu
jogava desde 1993. Só fui pensar nos Jogos Olímpicos quando eu conheci a
Jackie. Ela veio com esse sonho de participar. Estava começando a jogar, só
tinha jogado um ano com a Karina, que foi minha primeira parceira, e estava
descobrindo o vôlei de praia. Jackie já era rainha da praia, já dominava o jogo
lá fora, mas ela tinha que ter uma parceira brasileira para se classificar e
ela veio em busca.
6. Como
foi ser porta-bandeira?
Foi
um sonho! A Jackie não me deixou desfilar em Atlanta! Ela falava que iria
atrapalhar, que seria muito cansativo. Eu retrucava que ela já tinha desfilado
em Moscou [1980] e Los Angeles [1984] e eu não e que, se eu não fosse para outra
Olimpíada, não desfilaria nunca mais, que era uma decisão muito difícil e que
eu queria desfilar. Ela contra argumentava que nada poderia tirar nosso
objetivo, nosso foco, a medalha de ouro, que eu poderia ficar dispersa,
cansada, que ela não iria e que eu também não deveria ir. Estávamos hospedadas
numa casa bem distante. Tinha que ir para a Vila, da Vila se arrumar, ir para o
desfile, depois chegar, dormir na Vila, para, no outro dia, voltar para a casa... Acabei não desfilando e foi muito frustrante, porque eu queria muito! Essa é a
hora em que os atletas se encontram, está todo mundo relaxado, não tem ninguém
competindo, porque o tempo todo é tensão de competição, de treino e essa é a
hora em que todo mundo relaxa. É uma delícia. E eu sabia que eu ia estar perdendo.
Não fui. Depois, quando a gente ganhou o ouro, reconheci que era óbvio que ela
tinha razão. Não poderia fazer nada que pudesse atrapalhar a gente, tirar o
foco, cansar, nada. Aprendi ali que tudo tem a sua hora, não é a hora que a
gente quer, a gente que não sabe esperar. Em Sydney, quando eu me classifiquei,
eu falei: vou desfilar, nem que tenha jogo no dia seguinte, nem vem que não
tem! Aí ainda fui convidada para ser porta-bandeira do Brasil, então foi
fantástico estar ali! Estava na hora certa, no momento certo! Você compete com
tantos atletas renomados e você ser escolhida! As mulheres completavam 100 anos
de participação nos Jogos Olímpicos, eu tinha conquistado a medalha de ouro, o
voleibol nunca tinha conduzido a bandeira, então acabei vencendo. Foi demais!
Foi o maior presente, a maior emoção, surpresa mesmo! Aprendi mais ainda que
tudo tem a sua hora! Saber esperar, que tem a hora.
7. Você
já conduziu a tocha Pan-Americana. Como está se sentindo prestes a participar
do revezamento da tocha Olímpica?
Eu carreguei a
tocha de Atenas 2004 também, pois teve o revezamento aqui no Brasil. Eu conduzi
em Copacabana, foi uma festa! Todo mundo correndo junto, os familiares, amigos,
porque é na minha cidade. A do Pan eu lembro que, no estádio, eu passei para as
meninas do basquete, a Paula, a Hortência! Foi bem emocionante, você ali, tudo
escuro, aquele foco em você, você correndo com aquele símbolo, que é tão
antigo, tem toda uma história por trás, então fazer parte desse momento tão
especial é muito gratificante. Só valoriza as conquistas, dá o exemplo para
outros atletas, que tenham mais garra, mais vontade, se dediquem mais, para, algum dia, chegarem a esse momento. É a hora em que o atleta curte, não tem tanta
responsabilidade do jogo, você curte de fazer parte da história. Ainda
mais eu que já parei de jogar, então hoje, viver esses momentos, são mais
importantes agora do que quando eu estava jogando, porque antes eu tinha a
emoção e a adrenalina do jogo, da competição, que era o que eu mais gostava
mesmo, agora tem esse prazer, que não tem tanta responsabilidade, mas é emoção
pura.
Comentei com ela
sobre a possibilidade de eu também conduzir a tocha, já que estou participando
da seleção para tanto, como comentado no primeiro post, e Sandra não se furtou
a dar seu apoio:
Imagina se você
conseguir, que máximo? Você adora esporte, acompanha, enfim gosta de vivenciar,
ia ser muito legal, aí você ia ver como é que é, sentir esse momento,
conduzindo uma tocha, a tocha é linda! É o símbolo que todo mundo gostaria de
estar tocando ou correndo ali do lado. É muito emocionante.
E sobre a minha
“participação olímpica”, ela decretou:
Espetacular! Vá assistir ao
que puder, porque é inesquecível! O glamour, a beleza de ver esses atletas,
sentir a arena, nada é igual! Vale muito a pena, vai ser bem investido esse
dinheiro, é um sonho, você não vai esquecer!
Minha primeira foto com a Sandra: idos de 2011 |
8. Quando
nos jogos, consegue ver alguma modalidade esportiva?
Só pela
televisão. É difícil, pois, quando você não está treinando, está fazendo
fisioterapia, alongamento, parte física, está concentrado, não dá para ficar
saindo muito, se dispersando. Lembro que eu fui com a Adriana Samuel, irmã do
Tande, ver o vôlei indoor em Sydney, Brasil
x Argentina. Trabalhando, em Pequim 2008, eu fui ver a final do Nadal, do
tênis. Em Londres 2012, eu fui ao vôlei indoor.
Aqui eu pretendo assistir a outros esportes.
9. Qual
sua expectativa para os Jogos Rio 2016?
Jogar em casa é
sempre bom demais, é maravilhoso! Adorava jogar em casa. Não joguei uma Olimpíada,
mas muitos mundiais, e sempre ia bem. Eu acho que, para os atletas, é um lado
muito positivo estar em casa, com fuso horário em dia, estar acostumando com o
clima, estar comendo a comida a que está acostumado. Todo mundo perto. Basta
focar, concentrar, fazer o que está fazendo no dia-a-dia. A torcida brasileira tem
uma energia muito positiva, os atletas estão com tudo para tirar proveito realmente.
É se dedicar e tentar colher os melhores resultados! Estou muito otimista, a gente tem
grandes chances! Todo atleta sabe que é uma oportunidade jogar em casa, todo mundo
vendo, quem não estiver na arena vai estar vendo na TV. No SporTV, serão 16
canais, mais 40 na web, 56 canais! Adoraria participar dos Jogos Olímpicos na
minha cidade, no meu país! Mas eu vou participar, não jogando, mas como
comentarista!
Em 2015, homenagem |
Então, fica a
dica: quem não estiver na arena, poderá conferir Sandra Pires e mais um
excelente time de comentaristas e locutores de renome no Canal Campeão e vamos
torcer para que, 20 anos depois, possamos encerrar o jejum de medalhas de ouro
no vôlei feminino e de 12 anos no masculino. No que depender de torcida, já são
nossas!
Continuem ligados, que ainda temos muita novidade por vir!
[1] http://e.i.uol.com.br/album/090421sandra_pires_f_003.jpg
[2] http://og.infg.com.br/in/18820456-915-5a4/FT1086A/420/jaqueline1.jpg
Nenhum comentário:
Postar um comentário