quarta-feira, 11 de maio de 2016

Sandra Pires: pioneira

Pioneira. Esta palavra, de fato, define Sandra Pires.

Sua primeira Olimpíada, Atlanta 1996, foi também a primeira do vôlei de praia. Desse modo, ela se tornou a primeira campeã olímpica da modalidade, junto com Jackie Silva. Como se não bastasse, esta foi também a primeira medalha olímpica de uma brasileira, depois de 76 anos de participação, e, como já mencionado, foi logo a dourada.

Aquela final também entrou para a história por ter sido 100% brasileira. Ela não sai da lembrança de quem a acompanhou, como relatei no meu primeiro post, e como vocês puderam ver no relato de algumas das atletas mais vitoriosas do País na atualidade. Sem dúvida, aquele jogo inspiraria toda uma geração.

Quatro anos depois, suprindo uma pequena lacuna deixada em Atlanta, Sandra participou da sua primeira cerimônia de abertura e, sendo mais uma vez pioneira, foi a primeira mulher porta-bandeira do Brasil, em Sydney 2000. Nessa Olimpíada, Sandra ainda conquistaria mais uma medalha na sua carreira, o bronze.

Sandra: porta-bandeira em Sydney 2000 [1]
Em 2014, Sandra entrou para o Hall da Fama do Vôlei, honraria concedida aos melhores do mundo tanto no vôlei de quadra, quanto no de praia.

Atualmente, Sandra é comentarista do canal esportivo SporTV e estará diretamente envolvida na cobertura de mais uma edição dos Jogos Olímpicos.

Apesar da agenda atribulada, pois também é embaixadora dos esportes, Sandra dedicou um tempinho para falar com a gente sobre suas memórias olímpicas! Não posso deixar de registrar minha emoção com essa entrevista, pois quem diria que a menina de seus oito anos, que vira aquelas quatro gigantes subindo ao pódio pela TV há 20 anos, pudesse um dia sequer tirar uma foto com uma delas, quanto mais entrevistar. Uma prova de que a vida é feita de sonhos e que devemos correr atrás de todos eles para realizá-los, é o que o esporte e atletas como Sandra Pires nos ensinam!

Vale a pena a leitura!

1.       Qual sua lembrança mais antiga de Olimpíadas como torcedora?
Eu lembro muito de Barcelona 1992. Eu já tinha um entendimento, já estava envolvida no esporte. Me marcou bastante a final brasileira dos meninos do vôlei de quadra. Assistia também muito atletismo, sempre gostei! Foi meu primeiro esporte.

2.       Qual(is) o(s) momento(s) olímpico(s) mais marcante(s) para você como espectadora?
Antes de jogar, de participar, o que eu lembro mais é essa medalha de ouro do vôlei de quadra em Barcelona 1992. Eu também vi um pouco, mas não chego a me lembrar, dos Jogos Olímpicos da medalha de prata [Los Angeles 1984]. Eu não me lembro de ter participado tanto quanto de Barcelona, mas aquela medalha também foi bem especial! Eu lembro de vários dos jogadores dessa geração, eu era bem pequena, mas lembro do Renan, do Bernard, com aquele saque jornada. Aquela geração jogava demais! Não eram assim tão altos, mas eram muito craques mesmo! Tinham muita saúde!

3.       E como participante dos Jogos Olímpicos?
Já jogando, não tem como não falar da conquista da medalha de ouro. Eu era muito jovem [Sandra tinha apenas 23 anos quando foi campeã olímpica], estava começando uma carreira e era uma responsabilidade muito grande chegar na primeira Olimpíada e como favorita, mas, diante daquilo tudo, eu consegui ser bem forte, aguentar a pressão. Eu conhecia a história da Jaqueline, sabia que ela tinha participado de duas Olimpíadas pelo vôlei indoor, Moscou e Los Angeles, e que ela queria muito uma medalha de ouro. Ela era a melhor jogadora do mundo de vôlei de praia quando se juntou a mim. Então era muita responsabilidade e eu não queria deixar aquela oportunidade passar. Eu fui muito dedicada. Ela me convidou para jogar no final do ano de 1993, antes eu jogava com a Karina. Fui jogar nos Estados Unidos para acelerar o meu processo. Naquela época, eles tinham o melhor evento, mais etapas, os melhores jogadores estavam lá, não tinha tantas etapas ainda aqui no Brasil, principalmente no feminino. Eu comia, dormia, treinava, o tempo todo isso! Só pensava em voleibol! Fui para um “intensivão”! Valeu muito a pena! Desenvolvi muito jogando ao lado da Jackie, que é craque, tanto eu a via fazendo, executando, como falando para mim as coisas e também estava misturada com os melhores do mundo! Treinava do lado, em algumas praias, do Karch Kiraly, que é meu ídolo. Eu vi muita coisa. Foi muito válida essa ida para os EUA e realmente eu sabia que seria essa Olimpíada a oportunidade única. Eu sabia que, se todos apostavam na gente, a gente tinha chance. Deu tudo certo!

Campeã olímpica Atlanta 1996 [2]

4.       Quem são seus ídolos olímpicos/esportivos, independentemente da modalidade?
Ayrton Senna. Eu cresci com aquela musiquinha na minha cabeça, aquilo emociona muito. Eu acho que foi dali que eu comecei a me imaginar também com a bandeira do Brasil, aquela musiquinha dele aos domingos era muito emocionante. Adoro velocidade, era muito legal acordar e ver aquela cena, ele ali com aquela bandeirinha passando, saber daquela coragem dele de acelerar a 300 km/h num carro, o quanto ele era bom naquilo, fantástico! Então comecei a pensar: nossa, eu quero também fazer isso, representar meu País, ir bem e, se eu sinto essa sensação, quero fazer os outros também sentirem. Outro seria Karch Kiraly. Eu via sua postura, um cara muito sério, muito dedicado. Ele não era um cara tão alto, mas era extremamente inteligente, concentrado e habilidoso. Ele conseguia vencer atletas muito mais altos do que ele, gigantes, e a gente sabe que altura conta muito no voleibol, ajuda muito. E agora, como técnico, é tão dedicado quanto [Karch Kiraly é técnico da Seleção Feminina de Vôlei de Quadra dos EUA, atual campeã mundial e uma das favoritas no Rio 2016]. Adorava também o Michael Jordan jogando.

5.       Quando você via as Olimpíadas pela TV, se imaginava fazendo parte delas?
Não. Eu jogava vôlei indoor, mas me achava baixa. Não existia naquela época a figura do líbero para escolher e eu comecei um pouco tarde, porque queria estudar, morava longe, vários fatores que atrapalharam. Fui direto para o juvenil, foi tudo muito acelerado. Quando eu comecei a jogar no indoor, no profissional, eu já estava entrando na faculdade. Quando eu vi a praia, fui experimentar, jogava os dois. Mas, na época, praia não era esporte olímpico ainda. A praia só se tornou olímpica em 1995 e eu jogava desde 1993. Só fui pensar nos Jogos Olímpicos quando eu conheci a Jackie. Ela veio com esse sonho de participar. Estava começando a jogar, só tinha jogado um ano com a Karina, que foi minha primeira parceira, e estava descobrindo o vôlei de praia. Jackie já era rainha da praia, já dominava o jogo lá fora, mas ela tinha que ter uma parceira brasileira para se classificar e ela veio em busca.

6.       Como foi ser porta-bandeira?
Foi um sonho! A Jackie não me deixou desfilar em Atlanta! Ela falava que iria atrapalhar, que seria muito cansativo. Eu retrucava que ela já tinha desfilado em Moscou [1980] e Los Angeles [1984] e eu não e que, se eu não fosse para outra Olimpíada, não desfilaria nunca mais, que era uma decisão muito difícil e que eu queria desfilar. Ela contra argumentava que nada poderia tirar nosso objetivo, nosso foco, a medalha de ouro, que eu poderia ficar dispersa, cansada, que ela não iria e que eu também não deveria ir. Estávamos hospedadas numa casa bem distante. Tinha que ir para a Vila, da Vila se arrumar, ir para o desfile, depois chegar, dormir na Vila, para, no outro dia, voltar para a casa... Acabei não desfilando e foi muito frustrante, porque eu queria muito! Essa é a hora em que os atletas se encontram, está todo mundo relaxado, não tem ninguém competindo, porque o tempo todo é tensão de competição, de treino e essa é a hora em que todo mundo relaxa. É uma delícia. E eu sabia que eu ia estar perdendo. Não fui. Depois, quando a gente ganhou o ouro, reconheci que era óbvio que ela tinha razão. Não poderia fazer nada que pudesse atrapalhar a gente, tirar o foco, cansar, nada. Aprendi ali que tudo tem a sua hora, não é a hora que a gente quer, a gente que não sabe esperar. Em Sydney, quando eu me classifiquei, eu falei: vou desfilar, nem que tenha jogo no dia seguinte, nem vem que não tem! Aí ainda fui convidada para ser porta-bandeira do Brasil, então foi fantástico estar ali! Estava na hora certa, no momento certo! Você compete com tantos atletas renomados e você ser escolhida! As mulheres completavam 100 anos de participação nos Jogos Olímpicos, eu tinha conquistado a medalha de ouro, o voleibol nunca tinha conduzido a bandeira, então acabei vencendo. Foi demais! Foi o maior presente, a maior emoção, surpresa mesmo! Aprendi mais ainda que tudo tem a sua hora! Saber esperar, que tem a hora.

7.       Você já conduziu a tocha Pan-Americana. Como está se sentindo prestes a participar do revezamento da tocha Olímpica?
Eu carreguei a tocha de Atenas 2004 também, pois teve o revezamento aqui no Brasil. Eu conduzi em Copacabana, foi uma festa! Todo mundo correndo junto, os familiares, amigos, porque é na minha cidade. A do Pan eu lembro que, no estádio, eu passei para as meninas do basquete, a Paula, a Hortência! Foi bem emocionante, você ali, tudo escuro, aquele foco em você, você correndo com aquele símbolo, que é tão antigo, tem toda uma história por trás, então fazer parte desse momento tão especial é muito gratificante. Só valoriza as conquistas, dá o exemplo para outros atletas, que tenham mais garra, mais vontade, se dediquem mais, para, algum dia, chegarem a esse momento. É a hora em que o atleta curte, não tem tanta responsabilidade do jogo, você curte de fazer parte da história. Ainda mais eu que já parei de jogar, então hoje, viver esses momentos, são mais importantes agora do que quando eu estava jogando, porque antes eu tinha a emoção e a adrenalina do jogo, da competição, que era o que eu mais gostava mesmo, agora tem esse prazer, que não tem tanta responsabilidade, mas é emoção pura.

Comentei com ela sobre a possibilidade de eu também conduzir a tocha, já que estou participando da seleção para tanto, como comentado no primeiro post, e Sandra não se furtou a dar seu apoio:

Imagina se você conseguir, que máximo? Você adora esporte, acompanha, enfim gosta de vivenciar, ia ser muito legal, aí você ia ver como é que é, sentir esse momento, conduzindo uma tocha, a tocha é linda! É o símbolo que todo mundo gostaria de estar tocando ou correndo ali do lado. É muito emocionante.

E sobre a minha “participação olímpica”, ela decretou:
Espetacular! Vá assistir ao que puder, porque é inesquecível! O glamour, a beleza de ver esses atletas, sentir a arena, nada é igual! Vale muito a pena, vai ser bem investido esse dinheiro, é um sonho, você não vai esquecer!
Minha primeira foto com a Sandra: idos de 2011
  

8.       Quando nos jogos, consegue ver alguma modalidade esportiva?
Só pela televisão. É difícil, pois, quando você não está treinando, está fazendo fisioterapia, alongamento, parte física, está concentrado, não dá para ficar saindo muito, se dispersando. Lembro que eu fui com a Adriana Samuel, irmã do Tande, ver o vôlei indoor em Sydney, Brasil x Argentina. Trabalhando, em Pequim 2008, eu fui ver a final do Nadal, do tênis. Em Londres 2012, eu fui ao vôlei indoor. Aqui eu pretendo assistir a outros esportes.

9.       Qual sua expectativa para os Jogos Rio 2016?
Jogar em casa é sempre bom demais, é maravilhoso! Adorava jogar em casa. Não joguei uma Olimpíada, mas muitos mundiais, e sempre ia bem. Eu acho que, para os atletas, é um lado muito positivo estar em casa, com fuso horário em dia, estar acostumando com o clima, estar comendo a comida a que está acostumado. Todo mundo perto. Basta focar, concentrar, fazer o que está fazendo no dia-a-dia. A torcida brasileira tem uma energia muito positiva, os atletas estão com tudo para tirar proveito realmente. É se dedicar e tentar colher os melhores resultados! Estou muito otimista, a gente tem grandes chances! Todo atleta sabe que é uma oportunidade jogar em casa, todo mundo vendo, quem não estiver na arena vai estar vendo na TV. No SporTV, serão 16 canais, mais 40 na web, 56 canais! Adoraria participar dos Jogos Olímpicos na minha cidade, no meu país! Mas eu vou participar, não jogando, mas como comentarista!

Em 2015, homenagem

Então, fica a dica: quem não estiver na arena, poderá conferir Sandra Pires e mais um excelente time de comentaristas e locutores de renome no Canal Campeão e vamos torcer para que, 20 anos depois, possamos encerrar o jejum de medalhas de ouro no vôlei feminino e de 12 anos no masculino. No que depender de torcida, já são nossas!

Continuem ligados, que ainda temos muita novidade por vir!

[1] http://e.i.uol.com.br/album/090421sandra_pires_f_003.jpg
[2] http://og.infg.com.br/in/18820456-915-5a4/FT1086A/420/jaqueline1.jpg



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